22 horas atrás
Institucionais
António Salvador em entrevista exclusiva ao jornal Record
António Salvador, Presidente do SC Braga, concedeu uma longa entrevista ao jornal Record, na qual abordou temas centrais do futebol português: arbitragem, centralização dos direitos televisivos, o projeto desportivo do clube e os desafios estruturais que se aproximam.
Num momento marcado por tensão e polémica, o dirigente deixou uma mensagem de confiança e responsabilidade, sublinhando a necessidade de liderança e estabilidade no futebol nacional.
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Questionado sobre a ideia de que o futebol português está “doente”, António Salvador rejeitou dramatismos:
“Ainda há dias lia no L’Équipe uma reportagem de 4 páginas muito elogiosa sobre o futebol português e sobre o sucesso do futebol português. De repente parece que somos os nossos próprios detratores. Temos questões a resolver, claro que sim, mas não contem comigo para maltratar o futebol português.”
A propósito das recentes polémicas envolvendo árbitros, preferiu destacar a evolução do sistema:
“Vejo como positivo que a arbitragem seja capaz de reportar os factos que ocorrem e isso deve transmitir-nos confiança. Muito sinceramente, não acho que o silêncio seja uma opção. Eu reconheço aos presidentes da Liga e da Federação créditos para se fazerem ouvir em momentos como estes. Muito sinceramente, não acho que o silêncio seja uma opção e lamento o passa-responsabilidades a que tenho assistido. Percebo que o presidente da Liga está a fazer o seu caminho de aprendizagem numa nova função e num novo plano de destaque, mas reconheço ao presidente da Federação, não só pelo cargo que exerce, uma responsabilidade acrescida. Se há voz ouvida e respeitada em Portugal, é a voz de Pedro Proença. É um agente de elite do nosso futebol há décadas; foi presidente da Liga durante 10 anos; foi eleito presidente da Federação por números expressivos; já desempenhou altos cargos internacionais. Não estou com isto a atribuir qualquer culpa especial ao presidente da Federação pelo que se passa, estou antes a dizer que pessoalmente lhe reconheço essa credibilidade, essa autoridade e essa voz de comando. É um capital que o próprio soube construir e é um capital que eu pessoalmente gostaria de ver aplicado em momentos como estes.”
Apesar de elogiar o esforço de comunicação do Conselho de Arbitragem, reforçou que a falta de uniformidade continua a ser um problema:
“Hoje os critérios são tudo menos claros. Vejo muitos lances idênticos apitados de forma diferente. Criticamos a falta de uniformidade e queremos ajudar a que as decisões sejam melhores e mais coerentes. Recebemos respostas, sim, mas sendo muito franco o que sentimos é que anda tudo a passar a batata quente e a procurar refúgio na esfera disciplinar. E na nossa opinião à esfera disciplinar deve pertencer o que é da esfera disciplinar, com total autonomia e independência como é óbvio, mas que os responsáveis e os líderes não podem enjeitar a parte que lhes toca para defender o futebol e os seus agentes. A minha leitura é que as pessoas não têm feito tudo o que está ao seu alcance.”
Sobre as propostas recentes de alterações disciplinares por parte da APAF, António Salvador foi perentório:
“Acho que anda toda a gente a tentar aparecer bem na fotografia. A Liga terá o seu grupo de trabalho de alterações regulamentares, pelo que vou esperar pelas recomendações que vão surgir, mas do que vi parecem-me propostas altamente populistas, que violam alguns princípios e que portanto reputo de pouco sérias e pouco construtivas. Lá está, alguém quis ficar bem na fotografia.”
A centralização dos direitos televisivos, tema estrutural do futebol português, mereceu também destaque. Para o Presidente do SC Braga, o país precisa de dar um passo decisivo:
"Essa é uma liderança que cabe à Liga e sinto que a equipa a tem assumido, devo fazer-lhes justiça. Mas é preciso recordarmos porque é que Portugal pode e deve centralizar. Em primeiro lugar, porque neste momento estamos com Grécia e Chipre e com todo o respeito não é com Grécia e Chipre que devemos estar. Em segundo lugar, porque há um enorme desfasamento na distribuição e em nome da competição devemos corrigi-lo, temos três clubes que representam quase 70% do bolo total, isto não acontece em qualquer outro país. Estes devem ser objetivos coletivos, como também o deve ser a enorme oportunidade que temos de conseguir subir o nosso valor global, em claro contraciclo com o que acontece noutros países. Toda a Europa tem negociado direitos em quebra e Portugal tem uma enorme oportunidade de ser a exceção. Isso devia mobilizar-nos a todos, mas não sei se é o caso."
Salientou ainda o papel determinante do SC Braga no panorama nacional:
“Sem um SC Braga forte na Europa, Portugal é irrelevante. Basta fazer as contas. Sou o presidente de clube há mais tempo no cargo, lidero um clube respeitado e que tem voz e por isso estou disponível para ajudar, mas é impensável que o futebol português evolua e se transforme se os presidentes dos maiores clubes não estiverem alinhados. Não nos vamos iludir. Se os maiores clubes não puserem o futebol português e o interesse coletivo à frente dos seus egos e da clubite que os adeptos reclamam, a minha esperança é diminuta. É preciso sair das trincheiras, faço esse apelo aos líderes dos maiores clubes e estou disponível para ser parte de um grande plano em prol do nosso futebol.”
No plano desportivo, o Presidente não poupou elogios ao treinador Carlos Vicens:
“Muito satisfeito. Vive para o clube e para a equipa, é muito competente e muito dedicado.”
Quanto às críticas do início da época, garantiu nunca ter posto em causa a continuidade da equipa técnica:
“Sei quando há caminho e quando deixa de haver. Todos os indicadores internos estavam alinhados com a continuidade. Toda a equipa tem a minha confiança.”
Relativamente ao mercado, comentou os investimentos realizados e algumas saídas. Sobre Dorgeles e Pau Víctor, foi direto:
“Estamos satisfeitos com ambos, vão ajudar-nos muito.”
Quanto à venda de Roger após o fecho do mercado:
“Estávamos a contar com ele, mas surgiu uma abordagem que nenhuma das partes podia ignorar.”
Um dos temas estratégicos para o Clube é o futuro do Estádio Municipal. António Salvador revelou que o processo de avaliação está em curso e que os Sócios serão chamados a decidir:
“Antes do final da época direi aos Sócios qual defendo ser o caminho. Trabalho com todos os cenários, para isso preciso de avaliações técnicas independentes.”
Sobre a Cidade Desportiva, expressou orgulho pelo trabalho realizado:
“É um complexo único. Faremos o museu e provavelmente uma nova residência. O trabalho nunca está concluído.”
No plano financeiro, assegurou a estabilidade da SAD e destacou a relação com a QSI:
“A QSI tem-nos transmitido confiança máxima e reconhecido autonomia total. Vamos voltar a terrenos positivos já esta época.”
A concluir, reafirmou o objetivo maior do seu mandato:
“O SC Braga vai ser campeão com a maior naturalidade. As bases já cá estão e ninguém ficará surpreendido.”
E deixou uma mensagem aos Sócios, que continuam a apoiar a sua liderança:
“Tenho muito orgulho por continuar a ter a confiança dos Sócios. Devo isso a eles.”
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